Eterno Plantão
Rosa Pena
Sono, sono, sono! Colo, colo, colo! Você espanta o primeiro e oferece o segundo.
Muitos choros, espasmos de cólicas, uma fralda atrás da outra, mamadeiras, geléia de mocotó, maçã raspadinha, laranja, só lima, suco sem açúcar. O primeiro dente, que vai morar no telhado ou vira pingente, caldinho de feijão, bracinhos estendidos mostrando as novas descobertas, riso dobrado, olhar espantado (que mundo é esse!). Aquela coisinha pequena se arrastando pela casa, o mãeeeeeeee amplificado, dengo, birra, boca de chocolate, vacinas, batucadas com as panelas, grades nas janelas, passo torto, TV na Xuxa, Barbies, festa temática com direito a ser mais bela que a Cinderela, escola, coleção de lapiseiras, bóia de braço, viva o melhor amigo, abaixo o pior inimigo, mil adesivos, bicicleta, tombos, cicatriz no joelho, patins, brincos, Disney, Kalyamon B12, sol da manhã (bem cedinho). A baixinha fica alta, menstrua, pinta os olhos e vai sozinha pro colégio, pra festa...
Daí vem a tão sonhada trégua das noites que não se dormia, mas quem disse que se pode ter descanso quando existe o temor da distância que vai além do nosso olhar? Medo de pegar no sono!
De repente o calendário avisa que aquela coisinha tem mais idade do que você tinha quando a teve. Agora ela vai bem além da balada, da faculdade. Vai ganhar o mundo e você poderá finalmente dormir o quanto quiser, mas daí o sono, sono, sono, não vem. Colo, colo, colo! É você quem pede pra ela.
A saudade recente dói mais que a saudade antiga. Anteontem eu fui uma criança (pretérito perfeito, um fato já ocorrido, finalizado), mas ainda ontem... Ela é quem era! (pretérito imperfeito, um fato passado contínuo). Mãe nunca considera seu trabalho concluído. Eterno plantão.
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