Tira detergente
Rosa Pena
Depois que a Lourdes, a doméstica que trabalhava para mim e que me colocou injustamente na justiça do trabalho só para ganhar um troco e voltar pra sua terrinha bem seca, perdão Graciliano Ramos pela minha fúria, diga-se de passagem que ela perdeu a causa, eu não quis arrumar mais nenhuma doméstica. Fiquei traumatizadíssima e achei que dava conta. Moleza!!! Uma faxineira, uma passadeira e pronto. Está um calor danado, uma salada rápida, uma camiseta lavada no banho e acabou. Acabou onde?! E a poeira filadapata? A louça que se junta na pia? Box lotado de blusinhas, calcinhas, camisolinhas, a batata, a cenourinha ralada, o olhar de crítica ao arroz unidos venceremos, o nojo adquirido ao Miojo, a vassoura que completa meu eu, estou com chapinha no cabelo, a lavadinha básica na privada, um copo aqui e outro lá, café vai café vem e eu também, a água nas plantas, um peitinho de penosa é jogo rápido, porque não é você que lava, passa limão e frita nesse calor, o suco de laranja natural, porque ninguém toma Fanta que seus males espanta, a comida da tartaruga, vai comer alface assim lá no PV, ir ao hortifruti e bater no melão pra saber se está bom, bato e ele não fala nada comigo, melancia também é muda, a alcatra que não é chã, coxão mole, penso no meu colchão bem macio, a súbita camisa social que não pode esperar o dia da executiva do ferro, me ferra. Saí desse corpo que não te pertence!
Corta!!!!!!
Depois que a Santa Lourdinha partiu meu mundo caiu. Domésticas do meu Brasil sou a nova Tira detergente! Exijo robôs modelo sangue bom ou será a morte em vida.
Em tempo: Enquanto não importam os robôs, pago três salários, mais passagem, mais todos os direitos adquiridos e não adquiridos, como ficar com a casa e a família de vez.
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 31/01/2006
Alterado em 18/10/2008