sem conversa fiada

Rosa Pena

 

 

 

Sábado fui tomar um chope no Bracarense. Já falei dele diversas vezes com muita alegria. Sábado ela não apareceu plena. Veio de luto pela morte do menino Daniel Duque na noite anterior em frente à boate Baronetti.

 

 

 

 Domingo fui para o Conversa Fiada no Leblon. Tomo, de vez em quando, um chope no fim de semana. A comida de lá é deliciosa e a tribo que freqüenta mais ainda, não olha de banda pra quem fuma, quem ingere gordura, quem está com o vestido de bolinha amarelinha do tempo da Ana Maria, mas fica de cara feia pra quem chega com ar de luta livre. Lá se conversa desde John Lennon até  Shirin Ebadi, a advogada iraniana que ganhou o Nobel da paz. Not War.


Hugo Carvana, entre um charuto e um gole de um uísque, lastimava com Antônio Pedro, que tragava uma cigarrilha e saboreava um vinho, mais esta morte estúpida no cenário carioca. Todos nós estávamos à espera do feijão açoriano com muitas lingüiças e fatias de bacon, pensando na novíssima mancha do Corcovado. Ah! Lá no Conversa Fiada ninguém bebe e fica de estômago vazio pro álcool subir. Isso é coisa de babaca.

 

 

 

Quem é dessa turma provavelmente morrerá do coração, do pulmão ou até quem sabe de uma bala perdida, visto que elas estão em qualquer lugar, não são proibidas pelo divino nem nos poucos redutos Make Love. Mas, provavelmente, não terão a vida interrompida para servir de propaganda a lugares onde a atração é bater pra machucar.


O Rio de Janeiro sempre teve cantos para agrupar aqueles de posturas semelhantes. Atualmente tem mais, bem mais para atender a todos os tipos da extensa fauna carioca. Durante o dia, no centro da cidade e também em bairros grandes, os adeptos da alcachofra encontram inúmeros locais para praticarem o ritual de vida longa.

 

 

 

A rúcula adora o Delírio Tropical do Bernardinho, e geralmente enquanto espera a salada toma um espumante. No Cria da Terra do Tande, só entram produtos orgânicos e o espinafre pode saborear grãos de soja com uma cerveja antes da refeição feita de raízes. Nesses locais é proibidíssimo fumar! Beber tudo bem.


A noite carioca também criou novos lugares temáticos, onde a nicotina não tem vez. Atualmente os poluidores do meio ambiente buscam os pouquíssimos bares ao ar livre, onde entre conversas, drinques e risos podem soltar baforadas, mas jamais porradas. É óbvio que quem freqüenta esses centros profanados pelo alcatrão é a turma da antiga. O jovem já aprendeu que o cigarro mata. Só o cigarro! É sinistro o jeito de olhar dessa nova geração brócolis e repolho para a esquadrilha da fumaça. Vem com repulsa, pena, nojo e principalmente ódio (com razão), pois é terrível ser fumante passivo. Mas também é alarmante não terem aprendido nada sobre o consumo de álcool, talvez porque este cause déficits de aprendizagem. Mas e a turma coroa dos ex-fumantes, os salvadores do meio ambiente que enchem a cara? Será que não sabem os malefícios da bebida?Ah! Porque esta é talvez a maior responsável pelas falhas permanentes de memória, pela dificuldade de autocontrole, ausência de motivação, perda total da noção de risco para si e para os outros.
 

 

 

 

A psiquiatra americana Susan Tapert está desenvolvendo uma pesquisa onde comprova que quem bebe desde a adolescência tem 70% a mais de probabilidade entre outros males de desenvolver Alzheimer na mesma proporção de quem fuma ter câncer de pulmão. Mas isso não é divulgado. Prejudica mais que o cigarro a economia mundial.


Outra febre entre os jovens da geração saúde perfeita são as chamadas alcopops, bebidas gasosas que contêm essência de fruta adicionada a algum destilado.Também conhecidas como bebidas ice, possuem teor alcoólico semelhante ao da cerveja. Causam dependência!
 

 

 

 

Eu, sem fazer defesa ridícula ao fumo, quero realmente parar de fumar, com culpas e responsabilidades assumidas desde as alergias respiratórias de meus semelhantes até a minha contribuição para o furo da camada de ozônio, questiono a turma bom ar que enche a cara de cevada batizada. Não está na hora de se igualar danos? Também sou machucada passiva. No trânsito quando aquele bêbado bate em meu carro, quando fico apavorada por minha filha ir pra night, consciente que qualquer imbecil vai ficar bebum e fazer merda, quando leio que uma vida foi interrompida por conta da maldita bebida.


Gostaria de sugerir inspirada em Tutty Vasques, o mesmo clamor social! Garrafas e latas estampadas com caveiras, com desastres pavorosos, cabeças decapitadas, pancadarias na noite, similares as dos maços de cigarro. Mas creio que não vai dar em nada. Ontem mesmo ouvi a garotada na praia comentar que eles já descobriram como driblar o bafômetro. Basta bochechar com Listerine. Mas, olharam com aversão pra fumaça de um senhor. Por pouco o coroa não leva uns tabefes.


A boate Baronetti criou fama por brigas e confusões de adolescentes bêbados, (ela já coleciona atrocidades desde 2004).

O jovem Daniel foi mais um menino que perdeu a vida num local onde a temática é dar e levar porrada depois de encher a cara. Lá tudo é permitido, menos fumar.

 

 

 

 

 

 

 

 

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 30/06/2008
Alterado em 14/08/2015
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