15/09/2005 10h21
Perdi a unha e a educação.
Amanheceu com sol. O Chinelo(meu marido) vai à praia.
Ele ganhou esse apelido ontem depois de mais uma referência irônica ao me pé.
Revidei na hora:
- Tem sempre um chinelo velho para um pé doente.
- Ta me chamando de velho?
- Não, só de chinelo.
O clima aqui na aldeia carioca está quente em todos os sentidos. Melhor mesmo ele ir a praia com aquele conhecido dele, um arrogante metido a besta que não passa de um pé de chinelo. Estou fixada neste tipo de calçado. Já tinha três havaianas e ainda ganhei mais dois pares novos no dia das mães. Estou ficando pior que vovô quando morreu. Ele acumulou cerca de 40 pares de meias "zero km" no armário. Qualquer data festiva ele ganhava um par de cada neto, por falta de opção, e como já estava à beira da quarta idade, não deu tempo de usar. Tem também um bocado de lenços lá no inventário!
Será que vou passar pela terceira idade ou o meu dedo vai me levar direto pra quarta ? O Manoel Carlos escreveu sobre isso, essa idéia não é minha. Disse que antigamente as escalas da vida eram infância, mocidade, velhice, com subescalas , adolescência, meia-idade, maturidade etc. Agora só a velhice foi numerada. Terceira idade. Então a morte virou a quarta. Realmente Manoel, você tem razão.
Testei falar com minha vizinha que seus filhos da segunda idade ainda são muito barulhentos e ela ficou ofendida. Ela disse que são apenas jovens. Não entendi o ar de desagrado dela, como se eu é que fosse a preconceituosa. Ando com saudades do tempo em que meu avô era um velho senhor. Mamãe não chegou a ficar velha. Foi apenas mais uma da terceira, que passou para a quarta sem ter sido chamada de velha dama. Resolveram que o termo velho ofende. Já não mais teremos um sábio ancião contando histórias.
Estou me perdendo nessa prosa porque ontem a noitinha resolvi ir comprar pão.
Lá fui eu com meu dedão (virou ão, pois inchou) e entrei na fila.
Um ser da primeira idade estava impaciente e reclamou que a fila não andava, porque tinha uma gorda, um velho e uma aleijada na fila (eu era a dita). Na concepção dele todos espécimes em extinção.
Ontem percebi que não adiantou eu colocar minha blusinha azul linda. Ela não é referência.
Meu referencial agora é a mulher do pé.
Portanto esse termo terceira idade não tira o ranço de nada, se é velho e pronto, aliás uma bravura, conseguir ser um sobrevivente dessa sociedade inconseqüente onde o referencial sempre foi e será, olha o gordo, o aleijado, o preto, o gay, a sapata, e sei lá mais tantas.
Injuriadíssima, olhei pro guri que gritou e não fui nada condescendente.
- Calma narigão, tem pão pra todo mundo.
Conclusão: A manicure é a culpada deu ter perdido a educação.
Publicado por Rosa Pena em 15/09/2005 às 10h21