"Às vezes, quando sentimos a falta de alguém, parece que o mundo inteiro está vazio de gente."
Ela passa todos os dias na porta de meu prédio, correndo com um guarda-chuva fechado debaixo do braço. Ela corre bem, parece que sempre praticou corridas.
Eu e os demais passantes nunca conseguimos entender essa sombrinha. Muitos de nós nos conhecemos por morarmos há tanto tempo na mesma rua, frequentarmos a mesma academia, caminharmos pela manhã para manter a forma. Ela apareceu há cerca de um ano.
Hoje o marido de minha amiga, corredor praticamente profissional, não resistiu e perguntou o porquê daquele apetrecho.
Ela respondeu suada: — Minha filha pode cair do céu e se machucar. Não quero perde-la de novo. Qualquer coisa abro o guarda-chuva e ela cai sentadinha nele.
Seca os olhos e passa a régua Rosa Pena