Porre de paz
Rosa Pena
Voltando no tempo vem à lembrança dos antigos Natais. Havia somente frango vivo até a véspera da ceia, peru era coisa de rico. O negócio era criar o bicho para o Natal.
Rezava a tradição que dando um copo de cachaça ao penoso, antes de matá-lo, a carne ficava mais macia. Virada de ano: Criança dormia enquanto o pai virava o copo. Papai Noel só chegava dia vinte e cinco e trazia um presente para cada pessoa. Atualmente a gurizada, de classe privilegiada, ganha tudo tão fácil e em qualquer dia. Não precisa fazer por merecer.
Nestes dias de final de ano, para se livrar da culpa, aparecem tantas as campanhas para presentear os mais carentes com pelo menos uma refeição digna, como se uma ceia no final do ano matasse a fome de doze meses! Até ficamos mais sensíveis, o sorriso mais fácil, o aperto de mão bem caloroso, menos resistência com aquele menino que vende balas no sinal, todo mundo se abraça e clama por serenidade, fraternidade.
Talvez este clima de fim de novela, luzes, cores, som, funcione como a cachaça. Deixa o coração mais macio, a alma mais tenra, quase Sadia!
Então porque não permitimos a nós próprios, que este porre dure pelos próximos 364 dias?
Não fale somente de Paz. Pratique-a no dia-a-dia se for capaz. Afinal, somos ou não somos iguais também em janeiro, fevereiro, março...
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A paz é invisível
A gente apenas sente,
mas fica um bocado contente.
Rosa Pena
arte Simone CZ.