Conheci Yvonne Falkas na Net em 2002. Um dia recebi um e-mail de uma leitora rindo muito de uma daquelas minhas crônicas sobre nosso cotidiano, onde para sobrevivermos precisamos ser funkeiras. Nessa vida se a gente dá bobeira dança. É CRÉU!
A partir desse e-mail, começamos a trocar mensagens e Yvonne passou a fazer parte de uma pequena lista que tenho — Meus doces amigos—lista que recebe meu dia-a-dia em pvt..
Essa minha amiga sempre me leu, sempre me apoiou em tudo, seja visitando meu site, seja comprando meus livros, presente em minhas alegrias e em minhas deprês.
Durante dois anos eu fiquei sem saber que ela também era uma escritora. Só soube quando enviei uma crônica em 2004, que hoje estou novamente postando.
A crônica abaixo é dedicada aos meus alunos de artes cênicas portadores de síndrome de Down, uma patologia totalmente diferente do autismo, mas que também rotula a criança. No dia em que ela recebeu falou-me pela primeira vez de sua filha autista. Ah! Qual não foi minha surpresa ao colocar o nome dela no google e descobrir que essa minha leitora, sim apenas leitora, tão meiga, simples, atenciosa, tinha tanto para dizer, tanto para me levar a ler, mas, no entanto, isenta de qualquer vaidade, permaneceu ledora da Rosa.
Bem, hoje, maio de 2008, eu acabei de ler o segundo livro de Yvonne. Emocionei-me com a história real de sua vida, com sua coragem e mais... Vibrei com a grande escritora que ela é. Sua narrativa sem pieguices prende o leitor e desvenda um pouco mais o autismo e outras problemáticas de forma clara e franca, além de mostrar que as pessoas especiais, diferentes dos padrões convencionais, podem e devem ter uma vida proveitosa. Basta que nosso olhar também seja especial.
Convido todos a lerem *A menina sem estrela de Yvonne Meyer Falkas, mais que uma amiga, uma mulher que com afeto e amor ultrapassou os limites da ciência e conseguiu uma constelação de conquistas para Sheila.
Peculiar
Rosa Pena
— Conseguiu finalmente matriculá-la?
— Não, nesta também não aceitam crianças especiais.
— Explicou que ela fala a nossa língua, apesar de forma ligeiramente diferente, mas que dá para entender perfeitamente? Que faz xixi no banheiro deixando apenas alguns pingos fora do vaso, que come com as próprias mãos sujando só um tiquinho a toalha, que sabe andar sozinha, sorri bastante feliz, ainda que tardiamente, nas brincadeiras e chora sentida mais rapidamente com agressões? Que adora batata frita, hambúrguer, coca-cola e sorvete? Que faz festa de aniversário todo ano e adora ganhar adesivos bem coloridos? Que acredita em Papai Noel embora morra de medo dele? Que sonha em ter um monte de amigos, mesmo não sabendo que sonha com isso? Que não sabe o que é proibido e o que é permitido só enquanto não for avisada? Que já aprendeu o que é prêmio e castigo? Que tem adoração por pintinhos e pena das formigas? Que sabe um monte de coisas, porém, não enxerga ainda que sabe?
—Sim, mas o colégio não aceita crianças diferentes.
— Será que ela ficou tão peculiar, por saber tocar violino sem partitura aos sete anos ou a culpa são os seus olhinhos amendoados em demasia que não a permitem estudar com os demais?
"Uma sociedade que não admite os desiguais, dá as costas à civilização"
(para meus alunos portadores da síndrome de Down)