25/04/2008 00h50
um carinho do Cadu e a arte da silsabóia

ROSA

 

Carlos Edu Bernardes

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Rosa resgatou-me da oitava turbina quando o nível de água já ultrapassara os três sóis
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ninguém iria salvar-me depois de tanto tempo após a explosão
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Rosa foi
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ali estendido entre as paredes de titânio 34 nada mais me levava a pensar que ainda veria o pôr-dos-sóis novamente nem que poderia presenciar nossos amigos terráqueos vencerem os venusianos noutro campeonato de asa-delta-laser saboreando o incomparável whisky de Alfa-Blue
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eu sei que não deveria ter tentado desligar os sensores após 0,89 nanossegundos dos seus limites alotrópicos mas se tivesse dado certo teríamos conseguido alguns séculos a mais de oxigênio extra
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paciência - eu arrumaria uma boa defesa para a Corte Marcial intergalática porém inegavelmente voltaria a dar aulas nos planetas de detenção quando saísse da cadeia criogênica da Guanabara
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quê? estaria delirando? as possibilidades de sair dali com vida antes de uma nova reação em cadeia potencializada pela primeira explosão eram bem nulas
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bem - eu tentara
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foi quando numa fração de segundo - tempo bem maior do que aquele que ferrara meu intento - ouvi uma voz:
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"Carlos Edu!"

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pensei estar imaginando coisas... ninguém viria até aqui! a morte chama a gente pelo nome?
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"Carlos Edu!"
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olhei para cima e vi a abóbada cristalina do capacete de Rosa
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eu estava salvo se é que a C.M.U. (Corte Marcial do Universo) pudesse ser vista como salvação...
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"você está louca?" gritei

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"sim. ande logo!"
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tentei me colocar de pé mas não consegui
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minha bota direita estava enterrada até o tornozelo naquela terra encharcada do que outrora fora o Rio Nilo
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fiz um esforço descomunal e consegui retirá-la todavia os cadarços estavam presos nalguma coisa
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puxei novamente e um objeto cilíndrico veio laçado na outra ponta
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Rosa gritava e me xingava
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embolei o material e coloquei nos bolsos no exato momento em que era içado até a nave-novelo de Rosa
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no assento alvo e de volta para casa Rosa disse que não sabia se me abraçava ou se espatifava o meu occipital direito com o seu cotovelo delgado e feminino
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eu sorri o sorriso amarelo dos arteiros
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enquanto ela discorria sobre códigos e leis da Constituição Energético-Temporal entrecortados por um "Carlos Edu você nunca aprende" coloquei a mão no bolso e trouxe aquele bolo de material misturado com a terra estéril que nada lembrava a velha África
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era uma cápsula pequena adiabaticamente fechada
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provavelmente uma cápsula do tempo bem rudimentar
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já com o piloto automático ligado e em velocidade cruise Rosa ajudou-me a levantar e pediu que eu fosse trocar aquele uniforme praticamente destruído pela explosão e bendito que salvara a minha pele pelo menos por enquanto...
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depois de um banho anti-séptico que tratou de um par de feridas no meu braço direito e confortavelmente trajando uma nova indumentária mostrei para Rosa o pequeno pacote que subitamente se abriu quando ela encostou levemente o dedo indicador na sua superfície
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treinados para não tocar em nada sem uma inspeção minuciosa deixamos a caixinha no chão e a envolvemos numa redoma de chumbo transparente precavendo-nos de possível radiação
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passados poucos minutos chegamos mais perto e vimos por sobre uma pequena tira negra que parecia veludo uma constituição vegetal provavelmente uma parte aérea provida de apêndices verdes ou o que se costumava a chamar de folhas terminar em profusas pétalas vermelhas intactas lindas e perfeitas
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um pequeno bilhete escrito numa língua latina arcaica implorava 'povos do futuro clonem este espécime não deixem esta planta maravilhosa sumir da face da Terra'
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era belíssima! e como o achado fora meu olhei para a minha salvadora e disse com toda convicção e agradecimento enquanto beijava a sua bochecha corada:

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vamos disseminá-la universo à fora e seu nome será Rosa

  

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foto:rosa pena na arte digital de silsabóia


Publicado por Rosa Pena em 25/04/2008 às 00h50





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