La mentira
Rosa Pena
Lógico que acabou de vez, que agora nos odiamos e nunca mais, nunquinha mesmo, quero olhar pra sua cara nem você pra minha. Lógico que sei que você se arrependeu tanto quanto eu, desse nosso amor maluco.
Lógico que já se esqueceu da minha borboleta safada e eu do seu cavanhaque assanhado, dessa nossa maldita luxúria. Lógico que somos bem maduros para saber que passou, que foi um erro a mais, tipo votar no Clodovil de brincadeira e ele ganhar por que outros brincaram que nem nós. É lógico, mais que lógico, quase óbvio, que não vou pegar no seu pé nem você no meu, somos livres, eu já superei tanto ou mais que você, já era o tempo de luto, estamos felizes agora, bem mais do que antes. É lógico que nossa separação foi a decisão mais acertada! Exageramos demais nas emoções, pois quase nada aconteceu entre nós, piramos por um bom tempo, mas quem não enlouquece com essa inflação, com a violência, com o caos social?
É lógico que estamos certos e tranqüilos, tranqüilíssimos! Dizer adeus não foi tão difícil como imaginávamos. É lógico que aprendemos que não se come desenfreadamente buchada de boi sem ficar afrontado depois, mas todos têm o direito de abusar de vez em quando do apetite, depois se irritar com a própria burrice, sentir ódio da gula, de todos os pecados capitais. É lógico que da próxima vez não cairemos de cabeça, nem perderemos ela, somos inteligentes o suficiente para não errar pela décima vez. Então, agora que já nos passamos a limpo, que tal jogarmos o rascunho do que fomos fora e irmos à luta? Há tanto sol lá fora.
Só me diga uma última coisa antes do nosso adeus de vez.
Quem inventou lógica no amor foi algum parente do Pinóquio, né?
Filho da puta esse cara.
Enviado por Rosa Pena em 05/11/2006