Flash Back!
Rosa Pena
Andar de moto cheirando o cangote do meu gato, sem alguém imaginar que éramos assaltantes. Ainda se fabrica Lifebuoy? Assistir Tom e Jerry. Sumiram junto com o Tio Patinhas! Agora só DVD com o Nemo. Brincar de mímica. Filme com título em inglês não valia. Soprar as velas do meu aniversário. Atualmente só com extintor de incêndio. Fazer compras no mercado com mamãe. Coca-Cola e um sorriso. Ir ao jogo com o papai. Não existia Eurico Miranda. Desenhar as cores do arco-íris num papel. O micro era algo inalcançável e o Gates era um nerd com cara de sacristão. Roubar balas da minha irmã. Eu nem sabia que se media glicose. Ser aluna da dona Batistina e começar a gostar de Machado de Assis com dez anos. Comprar sandálias na fábrica da rua Manuel Leitão. Ganhar LP dos Beatles e namorar o Steve McQueen que morava num pôster dentro do meu armário. Sentir o cheiro das esfiras da tia Adélia. Domingo era dia bom de peraltice e eu era levada da breca. Ir à praia com bóia de pneu. Ficar ao sol sem medo do furo no ozônio. Camada para mim era com bastante chocolate no bolo. Ter caxumba, cuidado que ela desce. Ficar dengosa sem precisar do maldito mosquito. Torcer pela Mangueira e subir alegre o morro pra festa da Campeã. Tiro era lance de cinema americano. Fazer touca nos cabelos com Elis cantando Upa neguinho. A progressiva sumiu com a touca, com a Elis e com o neguinho. Bater na casa do vizinho sem medo de bater com a cara na porta. Levar Romeu e Julieta, goiabada com queijo, de merenda. Goiabada tinha que ser Cascão. Comer cachorro quente no Bob’s. Apenas pão com salsicha e mostarda. Never podrão! Virar normalista e paquerar os meninos do colégio Militar. Ser colega de aula e melhor amiga da Gagala. Até hoje, graças a Deus! Pular carnaval com fantasia de índia, mas índio não se fantasiava de terno. Ouvir o choro da tia Maria por causa de traição. Toma que o filho é seu, sem DNA. Bastava o nariz ser igual. Passar férias em Friburgo e exibir toda minha carioquice. Dançar no Hotel Glória ao som de Ed Lincoln. Passar no vestibular porque a gente estudava muito. Sem maracutaias ou cotas. Ver a lua e acreditar que lá morava São Jorge. Ir a show do Tom e Vinicius. Trabalhar com amor pela educação. Aplaudir o Guarabyra no festival da canção. Apareceu a Margarida, olê, olê, olá! Receber cantada sem baixaria. Deitar no divã do Bruno e achar que Freud era bobo perto dele. Sonhar que o Sabiá do Chico voltaria para brindar uma verdadeira democracia Encontrar o meu amor no meio de uma partida de Frescobol. Entrar na igreja ao som de "Hey Jude" sem véu, só uma tiara de flores. Ouvir a palavra mamãe na voz de uma coisinha tão pequenina. Começaria tudo outra vez se preciso fosse ou não, saudoso Gonzaguinha. Eu adoro um Flash Back!
Imagem/ julien pacaud