Maresia
 
 
Rosa Pena

 


Desligar o despertador, lavar o rosto, vestir o maiô, ir para academia, queimar calorias, tomar um puta banho, abrir o jornal, ler o de sempre. Síria não cessou fogo, mais 200 mortos na faixa de Gaza, a Petrobras continua na lama, o menino foi morto no sinal por conta de dez reais, sequestro do dono de mais um supermercado, todos os rios estão podres, subiu o arroz, feijão, leite, gasolina, governo americano desiste de doar dinheiro para salvar vidas na África para colocar sondas em Júpiter, prostituta da vila Mimosa vai ser uma das próximas atrações do BBB.
 Ter que vestir uma roupa decente com Rio 40 graus cidade do bem e do mal e ir andando até o metrô entre merdas de cachorros e gatos, muros pichados. O rapaz com AIDS está mais corado, a menina da casa amarela já beija muito na boca (cadê a Barbie?), a grávida ta com uma barriga imensa, o matagal da esquina aumentou, o sol forte queima as plantas. Não inventaram filtro solar para elas. Um mendigo passa com seus cachorros num carrinho velho de neném. Surge um negro e eles latem. Racistas. Tantos conhecidos anônimos — nenhum conhecido com nome: — vai tudo muito bem, vai tudo muito mal, a Globo é quem resolve. Dou um espirro, também saio com o cabelo molhado. A criminalidade tomou conta do país, esqueceram que o cachimbo é da paz, ora querem proibir ora querem liberar. A polêmica chegou até ao congresso.

 “Maresia, sente a maresia  maresia, uuu...”

Por vezes penso que deveria ir para Londres, Paris, Nova York, mas lá não é o meu lugar. Eu sou neguinha, que nem o Caetano Veloso. Totalmente terceiro mundo, cruz no fim do túnel, becos sem saída.
Entro no Subway e compro um sanduíche pra levar. Desço a escada rolante e corro para o trem lotado. Vou em pé rezando pra ver algo interessante para ser escrito e penso em tudo que assisti até agora. O ponteiro nem chegou às nove. Registro o quê? Todo mundo no WhatsApp. Penso em meus versos perdidos sem nem terem ido pro papel.
 Calma ai coração! Amanhã... O mar. Lindo, nu, seu.  

“Maresia, sente a maresia, uuu...”.
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 16/01/2015
Alterado em 18/01/2015
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