ALÉM... AQUÉM
 (Bendita ou maldita Internet!?!)

Rosa Pena



Ela precisava da voz. Depois de tanto tempo, e de tantas tentativas, havia conseguido estabelecer um contato mais íntimo.

Finalmente não eram mais aqueles lacônicos e-mails. Tinham conversado, mesmo que só virtualmente. Recebeu fotos. A voz completaria o quadro de sonhos. Estabeleceria uma intimidade que ela necessitava. Ligou. Sentiu que começou a perdê-lo naquele momento. Percebeu, nele, o receio de quebrar o encanto... Ou talvez a perda da amizade. Não sabe. Talvez nunca venha a saber!

Ameaçou, de alguma forma, aquele romance que tinha um tom de segredo, mistério. Mas será que ele conseguiu dimensionar a importância dele em seu viver? Sentia-se desejada da forma exata que todas as mulheres sonham. Estranho amor por um desconhecido-conhecido. Não sei doido, pois leu que “amor é feito de admiração e excitação”. Ela sentia exatamente isso. Amor sem falsos pudores. Sem excesso de valores. Amor pelo amor. Fantasias que a ajudavam a viver o presente, a esquecer do passado tão mal aproveitado.

Com ele conseguia exercer sua sensualidade plena. Não chegou a ser um amante, ficou mais para um amado. Não queria saber de teorias sobre pele, cheiro etc. Ela sentia ao seu modo. Deu seu tom, sua dimensão. Estabeleceu uma ponte com ele e atravessava a tela (fantasiosa que seja). Algumas vezes pensou se estaria numa “roubada”, e a resposta vinha prontamente: mais enganada do que a realidade de sua própria vida real? Impossível!

Gostava de ser uma mulher apaixonada. Queria o máximo de uma relação. Sentia nele  esse desejo correspondido. Existem os benditos véus dos segredos, que estimulam a paixão. A relação não se esgota pela convivência. Temos a amizade generosa, os desejos escondidos, a dúvida, a paz, a guerra. Ingredientes fundamentais para dar asas à imaginação sem Red Bull. Esta, na real, se perde entre fraldas, chupetas, contas de condomínio, máquinas de lavar. Não queria o Brad Pitt, não almejava o financista de Wall Street. Queria apenas um homem arrebatado.


Sabia que não seria eterno, não por ser “chama”, como diz o poetinha, mas por pertencerem à geração do descartável, onde o duradouro vira obsoleto. Necessitava apenas viver o sonho do grande amor, que contém todos os outros sonhos.

Agora veio o silêncio. Não aquele silêncio eloquente. Sentiu que o plural se foi. Voltou a pensar no singular. Depois da confissão, a comunhão. Ite, missa est.

Pecou no além... Era amor para aquém. Ou não era nem amor?
Bendita ou maldita Internet!?!

 


2002 livro: Eu e a Net/Rosa Pena
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 31/01/2005
Alterado em 09/05/2014
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