Oye!Como Va...


                                   Rosa Pena
 
 
 
Volto para a velha conta. Férias apenas uma dividida em duas ao ano. Com sorte e disposição terei ainda umas vinte férias para andar muito, pouso e decolagem sem pânico, subir o morro dos ventos uivantes, andar com malas em escada (Veneza, ai!), entrar em metrô Off- Broadway, pilotar bugre em dunas. Por isso corro demais enquanto aguento, para não virar aquele barco atracado há anos num porto seguro, totalmente encarquilhado pelas tempestades regidas pelo clima e não por aquelas que despencam com as emoções.

Penso em como a vida é contraditória. Sempre que estive no meio do rebu senti falta do meu ócio. Inatividade planejada, com direito a sesta, a filme de locadora com pipoca de micro-ondas em plena quarta-feira onde um monte de gente está ralando.

Curtir a preguiça sem vergonha alguma. Ser aposentada. Sim, aposentadoria não é sinônimo de ferrugem. Esqueci que agora eu posso tirar quantas férias eu quiser por ano! Será?

Estranho é perceber que você trabalhou por mais de trinta anos, ralou pra cacete e agora é olhada com preconceito por ser aposentada. De um dia para o outro seu tempo dobra e sobra, segundo filhos, irmãos, conhecidos, vizinhos, torcedores do Flamengo,  etc. Aparecem  montes de administradores do tempo para gerir de forma correta seu ócio. 

Cuidado com a depressão! Todo aposentado é um deprimido em potencial.Faz ginástica, anda todos os dias, dispensa a empregada, vai rodar no supermercado, marca lanche com as amigas no shopping, usa ao máximo os médicos de convênio que sempre distrai, não fica demais na Net, faz o plano OI Total pra poder ficar no telefone o dia todo, aprende a passar, lavar e atender a quem trabalha, quem não é da laia dos desocupados que podem ficar na fila no
hortifruti  pra comprar apenas um solitário mamão papaya.

Será que o QI da gente vai para o ralo junto com a aposentadoria? Estranhamente me sinto quase idêntica ao que eu era há tão pouco tempo atrás. Vou fazer uma pesquisa. Exemplo: Quanto tempo  você tem de aposentadoria? Quem é a Florbela Espanca?

Continuo correndo pra fazer tudo que quis e ainda não fiz. Sigo lendo, escrevendo, malhando, desfrutando de bons papos com amigos, insatisfeita como sempre fui, odiando telefone, amando minha empregada, discutindo a falta de merecimento do Obama em ganhar o Nobel, tirando meus cochilos como sempre adorei e agora posso de fato curtir o merecido soninho da tarde.

As férias realmente vão continuar sendo uma ou duas vezes ao ano, senão perdem a graça. E afinal ficar em casa é muito bom, principalmente quando você criou um lar que lhe acolhe e uma solidão que não lhe assusta. No mais não ter que dar satisfações a ninguém é ótimo, é uma sensação parecida a possuir uma casa no campo e uma boa Pick-Up pra vir pra muvuca quando der na telha, é quase igual ao supremo gozo de não precisar de despertador.

Fui! Cansei de dar explicação da minha merecida vagabundagem.


ps: Vou indo muito bem!
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 27/10/2009
Alterado em 04/11/2009
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