Mademoiselle?

                               Rosa Pena


Provavelmente no próximo inverno eu estarei resolvida deste. É bem provável que eu tenha esquecido que não mandei tudo para o inferno para você me aquecer neste, pois meu corpo sempre esteve acostumado a viver sem calor. Certamente no próximo inverno eu vou planejar uma viagem, vou compor novos versos, vou cantar a música da moda, vou falar mal da política, vou fazer regime para emagrecer. Tantos já afirmaram que o tempo é mágico, que sofrer é mais que comum. É sobrecomum, é comum de dois. Vale para moi e pro monsieur. Talvez eu até fique muito empolgada na compra de um vestido de mãe de noiva e pare definitivamente de me imaginar dama de honra. Mademoiselle? Faz favor. Madame e sem penhor! Vencida na validade do amor. Quem sabe eu não volto a lembrar que a samambaia da varanda não vive sem água, que meu cabelo adora uma nova cor? Com um pouco de esforço e muita esperança eu aprendo finalmente a fazer tricô?

Agora só me falta conseguir saber quando será o próximo inverno. Por enquanto só vejo que o mundo parou no inferno, mas não tem fogo nem um diabo gostoso que me carregue. É silencioso e cauteloso.
 Alguém, quando eu nasci, me vendeu gato por lebre dizendo que o paraíso é que era insosso. 
Sem direito à defesa ao consumidor vou me consumindo na dor. 

                                   Em que mês estou?

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 21/06/2006
Alterado em 02/07/2008
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