20/11/2005 23h33
Carpe Diem
Rosa Pena

Subi correndo no metrô, as portas já iam se fechar. Lotado. Amaldiçoei minha sandália de salto, visto que atualmente já não se vai mais ao centro da cidade arrumada. Na aldeia carioca, atualmente só se arruma para eventos.
Estava dividida entre a razão e a emoção.
Louca que alguém me cedesse um lugar e temerosa de que isso acontecesse, pois a cessão de lugar dar-me-ia o conforto dos pés e o desconforto emocional do tipo: “Senta, minha senhora.”
Bem, um garotão cedeu-me o lugar. Ele, como eu, estava arrumado, de terno e gravata.
Barba feita, rosto lisinho que nem bundinha de neném e cheiroso pra dedéu. Reconheci na hora o perfume: Carpe Diem, do Boticário. Socorro! Essa fragrância é fascinante.
Sentada no lugar dele, ofereci-me para segurar a pasta que ele levava. Ao entregar-me, percebi que usava abotoadura. Há quanto tempo não vejo homens com abotoadura. Veio a rima na hora. Ela rima com loucura. A letra é C.
Continuo fingindo que não olho para o rapaz e abro o livro da Queiroz. Será que ele se chama Cláudio?
Aborto a idéia da leitura, vou fechar os olhos. Se pensarem que estou cochilando danem-se. Imagino o olhar do Claudinho nas minhas coxas. Vou mais longe, imagino-me chegando em casa de madrugada cheirando a Carpe Diem.
E vou traçando roteiros com fundo musical do tipo “Je t’aime”. Quem sabe, “O último tango em Paris”? “Bem que se quis”?
Sinto uma vibração entre as pernas. Vibra e vibra mesmo. Acho que preciso mudar de hormônio, o Libian está supervalorizando minha libido.
Ouço a voz do meu quase amante Cláudio ao longe.
— Por favor, posso apanhar o celular que está na pasta? Tirei o som e deixei no vibrador, não sei nem se vibrou.
Vibrou, garoto, menos que eu, mas vibrou sim.
A estação Uruguaiana já passou. Salto na Cinelândia.
Quantas estações em minha vida deixei passar?

Publicado por Rosa Pena em 20/11/2005 às 23h33





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