06/03/2018 18h57
Ausência de lágrimas

Ausência de lágrimas
Rosa Pena

Hoje acordei pensando que cada noite deveria ser duas. Não quero ser duas pessoas. Quero o tempo de duas noites.
Sinto que sou amante de “Macbeth”. Foi ele quem assassinou o sono? Sou prima-irmã do Souza Cruz. Não sei quem inventou o cigarro, então vai ele mesmo.

Acho que devia ter nascido lésbica, apesar de que não ia segurar o preconceito dos heteros, que são de dois tipos: os que te odeiam pela frente e os que te odeiam pelas costas. E também adoro homem, sexualmente falando.

Acho que estou sofrendo um “desequilíbrio químico, um curto-circuito das minhas combinações nervosas”. Porque a única coisa que sei, neste exato momento, é que... as noites são minhas companheiras; o cigarro é meu amigo do peito (amigo traidor, mas só vou descobrir depois que estiver ferrada); as mulheres são as únicas que estão conseguindo me ouvir.

Sinto meu coração vazio de fantasias. Não tenho por quem sonhar.
Parei de chorar em filmes românticos, e Djavan já não me emociona.

Quero sentir pena da Maria, em Esperança, e ficar arrasada com amores impossíveis. Preciso de um segredo.

Nunca rifaria meu coração, como aqui na net já li... Mas o alugo... Sim, a um homem que me permita amá-lo. Nada exijo do meu inquilino. Apenas peço a ele a permissão de usá-lo como meu muso inspirador. E de vez em quando uma palavra de afeto.

Essa palavra que me daria o direito de sonhar com o impossível que seja, mas preencheria este vazio absurdo que estou sentindo.

Tá doendo, a ausência de lágrimas.


2001

Livro/ Com Licença da Palavra
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 ps: parei de fumar em 2008
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Publicado por Rosa Pena em 06/03/2018 às 18h57
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