21/11/2006 15h41
Almodóvar retorna a Almodóvar
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Rosa Pena

Alguns discutem sua genialidade, mas é indiscutível que ele é um grande sacador da humanidade. Com absoluta tranqüilidade, sem a constante preocupação de estar ou não transgredindo a moral, a ética estabelecida pela sociedade, ele discorre sobre alegria de viver por trás do ridículo da existência.

É nesta ilusória simplicidade que se concentra o encanto dele. O choro se mistura ao riso, a raiva ao gozo em instantes. Não existem vítimas e culpados, não existem bandidos e mocinhos. Existem situações na vida onde podemos estar enquadrados em qualquer desses adjetivos.

Não parte para o hollywoodiano, para o drama-policial onde a sentença de vida é fornecida por uma justiça capenga, com leis elaboradas por alguns tão ou mais comprometidos com a violação delas. Parte sim para a compreensão do porque se faz algo que ofende os princípios. Ele desconstrói tranqüilamente o melodrama. As tensões iniciais são invertidas por ele. Sempre de forma natural, sem sentimentos transbordantes, mas não menos dramáticos e hilários.

- Que cheiro forte de peido! Mamãe peidava tanto. Saudades dela.

Raimunda tenta esconder o assassinato do marido, um idiota que cometeu violência contra sua filha. Raimunda merece ser penalizada e perder a oportunidade única de ascensão social por causa de um miserável marido morto?

Almodóvar retorna a sua terra natal para retornar a si próprio, apesar deu achar que ele nunca se perdeu.

Os homens são figuras apagadas no filme, servem apenas de contraponto na vida dessas cinco mulheres.
Como sempre a figura materna presente em sua vida. Na nossa também.


Pedro Almodóvar de enfant terrible a cineasta prodígio.

Com 16 anos, se mudou sozinho para Madri com o objetivo de estudar cinema e, em pouco tempo, envolveu-se com a chamada movida, movimento de contracultura que floresceu na capital espanhola no final do regime autoritário de Francisco Franco. Realizou shows com a banda punk Almodóvar y McNamara, escreveu fotonovelas para a revista El Víbora e realizou curtas em Super-8.

Longa- metragem:

Pepi, Luci e as Outras (1980), Labirinto de Paixões (1982), Maus Hábitos (1983), O que Eu Fiz para Merecer Isso? (1984), Matador (1986), A Lei do Desejo (1987), Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), Ata-me! (1990) De Salto Alto (1991) , Kika (1993), A Flor do Meu Segredo (1995) ,Carne Trêmula (1997) ,Tudo sobre Minha Mãe (1999) , Fale com Ela (2002), Má Educação (2004), Volver (2006).

Publicado por Rosa Pena em 21/11/2006 às 15h41





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